domingo, 4 de abril de 2010

Teatro - Analfabetismo ( Quem acredita sempre alcança)

Quem acredita sempre alcança

Autora: Lili de Sousa


Hosana – Rosinha
Renata – Rebeca
Carol – Zé
Linete – Professora
Izineide – Zefinha
Maylane – Tonho
Roseanny – Michele
Andreza D – Ana
Andreza M – Elenilda
Charlene – Das Dô


Estão o pai, a mãe e a filha a mesa da cozinha

Rebeca – mãe falta pouco agora para terminar a minha faculdade de pedagogia, sabe qual vai ser a primeira coisa que eu vou fazer quando terminar?

Das Dô – o que fia?

Rebeca – ensinar você e o pai a lê...voces vão ser meu primeiros alunos.

Zé – oxe fia ! dexa disso eu e tua mãe já tamu véio, num temo mai cabeça pra aprender nada nessa vida

Das Dô – dexa nossa fia home ! ela acredita ne nóis no nosso potenciar

Rebeca – isso mesmo mãe. Agora deixa eu ir que não quero perder a aula.

Rebeca sai da sala

Das dô – ora Zé num fala isso que ocê falô, dexa a minina é tão esforçada ele só qué nosso bem

Zé - eu seio mulé...é que num quero que ela perca o tempo dela cum nóis...vamu dexa de prosa, tenho que trabaiar, troquei de turno com o Josué e hj cou tomar conta da rua de cima...inté!

Das dô – inté !

Zé beija a Das Dô e saí da sala, fechando a porta.
Batidas na porta

Das dô – oxe cumadí Zefinha, se achegue venha tumá um café

Zefinha - oi cumadí Das dô tava passando e vim visitá, como vai ocês?

Das dô - bem cum a graça de deus nosso Jesus Cristo, e meu cumpadi tonho como ta?

Zefinha – anda meio avexado cum uma dor nas costas, e a minina onde anda?

Das dô – ta istudando...se formando prefessora

Zefinha – que coisa boa!

Das dô – i sabe o que ela qué fazê? Insinar eu e o Zé a aprender a lê

Zefinha – é memo cumadi e oces qué?

Das dô – porque não cumadi zefinha? E bom pra nóis. Lá no norte nóis num tivemos oportunidade de istudá, desde piráia trabaiamo na roça de mi, hoje nóis mora im Sun Paulo, cidade grande. Quantas veiz as madama num brigaram cum nóis porque não sabemo lê as etiquetas das ropâ e lavamo cum cândida quando num podia, ou passamu ferro errado? Ocê sabia que cada tipo de pano tem um jeito de passá?

Zefinha - eu seio cumadi, eu também num seio lê...é tudu mais difici...eu nunca andei de metrô sozinha, só cum os meus fio, e tanta letra, tanta palavra pra la, pra ca. Mais é que nois tamu veio, istudar e pros minino que tem cabeça nova e num tem preocupação na vida

Das dô – eu discordo cumadi!...e quero aprender a lê.

Zefinha - ta certo das dô, vai vê a cumadi ta certa...mais agora preciso ir tenho que comprar os remédios pra dor do veio.

Das dô – oxe ta cedo...aparece mais veiz pra nóis prosear

Zefinha – pode dexá

Das dô - vai cum deus

Zefinha – fica cum ele

Das dô - ti levo até o portão cumadi.

Zefinha e Das dô saem.
Entra Tonho com dor nas costas e se senta numa cadeira. Zefinha abre a porta e entra

Zefinha – ta meior tonho?

Tonho – a dor passou um pouco, o que ce ta fazendo?

Zefinha - vendo a receita dos seus remédios que o dotor passou.

Tonho – vendo pra que? ce num sabe lê?...dexa isso ai quando os minino chegar eles lê pra nóis.

Zefinha - a fia da cumadi das dô ta si formando prefessora, ela vai insinar o cumpadi e a cumadi a lê.

Tonho – isso é bom...nóis que num sabe lê somo igual bicho, igual boi, que o fazendeiro pôe cabresto e leva pra donde qué, prum lado e pru outro, sem vontade.

Zefinha – ce acha que nóis ainda aprende a lê tonho? Memo tanu veio?

Tonho – oxe porque não mulé, tamu véio mai num tamu morto e diz o ditado: enquanto a vida há esperança.

Zefinha - tu ta certo tonho, vamu aprende a lê com a fia da das dô?...to cansanda de ser anarfabeta e num cunsigui lê nem uma receita de remédio.

Tonho – certo mulé vamu falar cum ela amanhã, agora eu quiria me deitar pra vê se esta mardita dor passa.

Zefinha – vamu deitar Tonho pra ocê tuma seus remédios.

Zefinha e tonho saem
Entra Rebeca e Ana, elas se sentam nas carteiras, logo em seguida a professora entra.

Professora –

A professora abraça Ana e Rebeca e sai deixando as duas.
Entra Michele

Michele - estou tão feliz por vocês acabou o curso afinal, pra mim ainda falta um ano.

Rebeca – agora vou poder realizar o meu maior sonho.

Ana – qual rebeca?

Rebeca – ensinar os meus pais a ler.

Michele - que lindo beca!!

Ana – eu também quero trabalhar na educação de jovens e adultos, eles são pessoas com muito potencial, só não tiveram oportunidades de estudar quando crianças.

Rebeca – igual os meus pais, que tiveram trabalhar pra ajudar no orçamento domestico...vcs sabiam que só em SP há 383.000 analfabetos

Michele – nossa eu não sabia gente

Ana - o Brasil é o 3º maior índice da analfabetismo no America do Sul, com 23 milhões de analfabetos. Precisamos mudar essa realidade.

Rebeca - mais somos só duas Ana

Ana - duas que valem por muitas, eu vou trabalhar numa ONG de EJA perto de casa, não querem vir comigo...eles precisam de professores e estagiários.

Michele - eu adoraria...estou começando a me interessar pelo EJA.

Rebeca – e meus pais poderiam estudar la também?

Ana – lógico que sim.

Rebeca e Michele – então vamos

As três saem da sala.
Entram Das dô e Zé e se sentam nas carteiras com seus cadernos...em seguida Michele se senta perto deles...entram Ana e Rebeca

Rebeca - boa noite hoje e nosso primeiro dia de aula e quero apresentar a vocês a professora Ana...

Batem na porta e entram...

Tonho - licença prefessora, tem lugar pra mais 4 alunos na sua turma?

Rebeca - lógico que tem seu Antonio.

Tonho - eu, minha mulé e minhas subrinhas queremu aprende a lê, tamu cansado de ser igual boi nessa vida...sem entendimento das palavras sabe?

Rebeca - sei seim seu Antonio e o senhor esta certo, agora vocês vão aprender a ler e não só isso vão também aprender a escolher, refletir e ter senso critico.

Tonho – isso é bao demais sô!

Zefinha – prefessora essas são minhas subrinhas Rosinha e Elenilda.

Rosinha - oia fessora eu fui na escola quando era pequena...aprendi um bucadinho...eu conheço as letras e umas palavras

Elenilda – eu também...seio lê mais o menos

Rebeca - então voces são letradas...só precisam ler mais...aqui a professora Ana vai ajudar vocês.

Rebeca – então vamos começar a aula?

Todos – vamos professora

Nenhum comentário:

Postar um comentário